Diversidade e Inclusão em RIG: Quais os ganhos?

Atualmente, muitas pesquisas têm demonstrado os impactos positivos da diversidade e inclusão (D&I) dos colaboradores, para as empresas. Ganhos financeiros e nos resultados são claros e relevantes. Além disso, a imagem perante a opinião pública e a pressão popular, torna o tema ainda mais urgente nas organizações.
Infelizmente, muitas profissões ainda são restritas a determinado padrão de pessoas. É o caso da profissão de relações institucionais e governamentais (RIG). Nessa profissão muitos requisitos para a entrada, acabam limitando o acesso de potenciais profissionais, dando a cara elitista da carreira. Por essa razão, diversidade e inclusão devem ser temas do debate dos profissionais de RIG.

D&I na carreira de RIG pode contribuir com solução de problemas de maneiras diferentes, estratégias inovadoras e novos argumentos nas discussões de políticas públicas. Como profissionais que lidam diretamente com a formulação dessas, é imprescindível que tenhamos um olhar amplo, geral e que abarque a maioria da sociedade.

A maioria de nossa sociedade é formada por negros. Mas quando olhamos para o lado, vemos poucos negros em cargos de liderança, em nosso cenário político e, claro, nas áreas de relações institucionais e governamentais das organizações. Aqui nesse texto meu foco será essa população, porém, não nos esqueçamos que, além da discussão de raça, temos em diversidade e inclusão a discussão de gênero, LBTQIA+, gerações, entre outras.

Voltemos aos critérios e requisitos de entrada nessa profissão. Vamos pegar um exemplo bastante ilustrativo, já que em torno de 5% da população brasileira fala fluentemente o inglês.

Por alguma razão, em determinado momento, as organizações entenderam que exigir inglês avançado ou fluente era essencial para essa carreira. Os gestores concordaram e essa passou a ser uma exigência, mesmo em organizações nacionais, em que o analista júnior não terá nenhuma interação com pessoas de fora do país.

Primeira barreia! Um jovem negro, da periferia (já que a maioria dos negros atualmente encontram-se nas periferias), não teve a oportunidade de estudar inglês, fazer um intercâmbio, durante sua infância. Muitas vezes, ele precisou trabalhar para cursar a faculdade e não teve chances para fazer outros cursos concomitantemente. Pronto! Ele não será contratado para essa vaga, apesar de ser uma pessoa boa de relacionamento, com uma visão estratégica diferenciada e com vivências capazes de contribuir no trabalho coletivo e com resiliência num momento de crise ou negociação.

Percebem? A organização deixa de ter um profissional com conhecimentos e características no perfil, excelentes para a desenvolver o trabalho de RIG, por conta de um requisito de conhecimento específico, que nunca seria utilizado por esse profissional. Além disso, a organização perde a oportunidade de dar a essa pessoa a possibilidade de ascensão na carreira, já que ao entrar, a pessoa poderia cursar o inglês e aprender.

Vejam, a ideia da diversidade nas contratações não é reduzir níveis de exigência ou contratar profissionais ruins. Ao contrário, é ter requisitos e critérios realistas, compatíveis com a função que será exercida por esse colaborador, para que possam ser contratadas pessoas com boas características. Características essas que não podem ser adquiridas, ou dificilmente serão adquiridas (as chamadas soft skills).

Além de passar pelos requisitos das vagas, o profissional negro terá que vencer o racismo presente nos algoritmos dos sistemas de seleção! Sim, eles existem e estão muito relacionados aos vieses inconscientes de quem os produziu…mas isso é tema para um outro artigo!

Passemos à questão da inclusão. Não basta ter um processo seletivo diverso, se o ambiente não é inclusivo. Por isso, diversidade sempre anda junto com a inclusão. O negro contratado, por exemplo, precisa entrar no ambiente e se sentir respeitado, participante do dia a dia da organização, da interação com os colegas, e, ao olhar para o lado, ter a certeza de que aquele ambiente lhe permitirá crescer! É preciso empatia.

Entendendo a importância da diversidade e inclusão racial e conhecendo as barreiras que temos na profissão de RIG, em junho de 2020 surgiu o coletivo Pretas & Pretos em RelGov. O coletivo surge com o objetivo de ampliar o debate sobre a diversidade racial na profissão; ações para organizações serem mais diversos em seus processos seletivos na área e para os gestores serem mais conscientes de seus vieses inconscientes, no momento das contratações. Além de, propor iniciativas para ampliar a empregabilidade de jovens negros na área de RIG.

A primeira coisa que o coletivo sempre coloca (e o fez surgir a partir dessa) é uma reflexão, que deixo aqui para os leitores: de todos os relações governamentais que você conhece, quantos profissionais de RIG, negros, você conhece em cargos de liderança? Pensem nisso, nunca esquecendo que os negros são 54% da população brasileira!

Autora: Verônica Hoe Lopes